sábado, 27 de novembro de 2010

A Igreja do Carmo e a fundação do arraial de São Pedro do Uberabinha

1ª capela construída a partir de 1846
A história oficial de Uberlândia trata Felisberto Alves Carrejo como fundador¹ da cidade. Discordo um pouco dessa visão, uma vez que na localidade já havia certo contingente populacional, e também a presença pioneira da família de João Pereira da Rocha². Portanto havia uma povoação, o certo é que Felisberto era um letrado no meio da maioria analfabeta. E isso facilitou para que ele em nome dos demais corresse atrás do necessário para a constituição legal do arraial. Tanto que foi escolhido pelos moradores para representar os interesses do arraial, junto à Vila de Santo Antônio do Uberaba.  Pode-se afirmar que Felisberto foi um dos fundadores do arraial. Segundo Tito Teixeira na obra Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central, Felisberto em companhia de seus irmãos e demais familiares chegaram a localidade por volta de 1835, e adquiriram terras de José Diogo da Cunha e João Pereira da Rocha, e as dividiram-na em quatro fazendas, denominando-as a saber: Olhos d’água, Laje, Tenda e Marimbondo. 

Na fazenda Tenda, de sua propriedade, Felisberto fundou a primeira escola da região. Tinha preparo e conhecimento para isso, pois havia estudado no seminário dos Padres Catequistas, na então Vila de São Bento do Tamanduá, hoje Itapecerica de Minas. Lá também aprendeu a profissão de ferreiro, o qual posteriormente abriu uma oficina em sua fazenda. O próximo passo de Felisberto foi lutar pela construção de uma capela, o que se inicia em 1846. Encontrou fácil apoio da população, que a medida do possível fazia suas contribuições para a construção da mesma. Também foi aclamado pela população como inspetor paroquial, ficando responsável a representar e prestar contas, se necessário as autoridades eclesiásticas. 
Matriz de Nª. Senhora do Carmo em fins de 1920, ainda permanecendo as características arquitetônicas de 1860.

Em 27 de dezembro de 1849, José Martins Carrejo, filho de Felisberto é ordenado sacerdote na Catedral de Sant’Ana da Vila Boa de Goiás. Uma vez que o Triângulo Mineiro estava sobre jurisprudência eclesiástica do bispado de Goiás. Padre Carrejo foi designado para chefiar a Paróquia da Aldeia de Sant’ Ana do Rio das Velhas, hoje Indianópolis³. Até então, a igreja mais perto de Uberabinha (cerca de 35 Km). Para lá que a população ia para cumprir seus deveres religiosos. Com a inauguração da primeira capela em 1853, as coisas facilitaram e não precisavam se deslocar a tal distância. A igreja recebeu o orago de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. No adro da igreja, foi feito o primeiro cemitério. Sobre a primeira invocação ressalta-se que foi escolhida por Felisberto, pois em sua família havia uma tradição muito forte a Nossa Senhora do Carmo. Prova disso é que as mulheres de sua família carregavam na assinatura o nome religioso do Carmo. 

Felisberto Alves Carrejo
Na ausência de um padre cura, o Pe. Carrejo se deslocava de Indianópolis para Uberabinha a fim de realizar as celebrações. Às vezes ele acabava ficando uma temporada por lá, junto de sua família. Isso permaneceu até que foi designado o primeiro vigário, Antônio Joaquim de Azevedo. Agora Uberabinha pôde contar com um padre de forma definitiva e o Pe. Carrejo passou a ser o coadjutor. Com o objetivo de dar forma jurídica às terras adquiridas em consentimento dos vinte e um proprietários, os procuradores, promoveram a divisão e demarcação daquele patrimônio perante o juiz municipal de Uberaba, em outubro de 1857, no arraial já denominado de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. Nesse mesmo ano, a capela curada passa a ser freguesia e se viu necessário a ampliação da igreja, pois a mesma já contava com 3000 almas. É em 1861, que a mesma vai ser elevada a condição de paróquia, continuando com a mesma invocação. Felisberto Alves Carrejo vem a exercer também, o cargo de juiz de paz. Com o seu falecimento, é Francisco Alves Pereira que substitui Felisberto a frente do arraial e da continuação das obras na igreja. Enfim, Felisberto tem um papel relevante na história do município de Uberlândia. Foi graças a ele e aos demais homens da terra, cujos nomes a história oficial insiste em ignorar que se deu a fundação do arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro do Uberabinha, e que se tornou, na pujante cidade de Uberlândia.

 

NOTAS

¹ Felisberto Alves Carrejo foi oficialmente considerado fundador da cidade em 1964.
² Oriundo de Cachoeira do Campo, João Pereira da Rocha chegou a região por volta de 1818. É em 1821 que recebe uma carta de sesmaria, oficializando as posses realizadas. O resultado dessa sesmaria dá-se na fundação da Fazenda São Francisco.
³ Essa cidade foi fundada pelo Cel. Antônio Pires de Campos por volta de 1740. O mesmo chefiou 3000 índios Bororôs num terrível combate contra os temíveis índios Caiapós. Constitui umas das povoações mais antigas do Triângulo Mineiro. Com a anexação à Goiás, passou a ser posto alfandegário com a missão de fiscalizar a estrada São Paulo – Goiás. Posteriormente esse posto foi transferido para Desemboque, situado na margem direita do Rio Grande.

REFERÊNCIAS

TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central. 1º vol. 1ª Ed. Uberlândia: Uberlândia Gráfica, 1970.
ARANTES, Jerônimo. Cidade dos Sonhos Meus: Memória Histórica de Uberlândia. Uberlândia: Edufu, 2003.
SILVA, José Trindade da Fonseca (cônego). Lugares e pessoas - Subsídios eclesiásticos para a história de Goiás. 1º vol., São Paulo: Escolas Salesianas, 1948.  
Acervo Eclesiástico da Catedral Santa Terezinha – Uberlândia – MG.
Acervo Onofre Rezende – Seção de Documentos – Anápolis – GO.

FOTOS

Acervo do Arquivo Público de Uberlândia

* Daniel Alves Rezende é pentaneto do casal Francisco Martins Carrejo e Delfina Alves Rodrigues, sendo que Francisco era irmão do padre José Martins Carrejo. Consequentemente, filhos de Felisberto Alves Carrejo e Luiza Alves Martins.


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