sábado, 26 de maio de 2012

A vida de minha Avó...



Benedita de Fátima Rezende nasceu em 30 de outubro de 1943 em Uberlândia – MG descendia das antigas famílias que fundaram a cidade. Sendo filha de Joaquim Rodrigues de Rezende e Maria Ferreira de Rezende, foram seus avós paternos Onofre Rodrigues de Rezende e Vergilina Maria de Rezende; e maternos, Modesto Ferreira de Rezende e Thereza Maria de Jesus. O seu nome foi dado para homenagear a São Benedito e a Nossa Senhora de Fátima. Quando tinha apenas dois meses de idade, seus pais, Joaquim e Maria se mudaram para a fazenda Sobradinho em Anápolis – GO, que era propriedade de seus avós. Ali brincou, cresceu e viveu por um bom tempo. Aos sete anos de idade já ajudava a seus pais, juntamente com seus irmãos Valdete e João na dura lida da roça e também no trabalho doméstico. A tardezinha quando chegavam do trabalho, seus pais rezavam o terço em família, ela e seus irmãos, ainda crianças cochilavam durante o terço, devido ao cansaço. Seu pai logo ralhava, pois era momento de rezar e não hora de dormir.

Primeira Comunhão de Benedita e Valdete
A família tinha uma forte devoção católica, nós tempos da seca iam rezar ao pé do cruzeiro e fazer novenas. Na época em que ainda não tinham casa na cidade, Joaquim alugava uma pensão e vinha de carroça com a família para participarem na romaria do Bom Jesus e das celebrações da Semana Santa. A fazenda deles sempre recebia visita dos padres, em especial dos freis Domingos Foley e Benedito Coscia, este último posteriormente foi bispo de Jataí. Fez a sua Primeira Comunhão juntamente com sua irmã Valdete nos anos de 1950, nessa época a Igreja Nossa Senhora de Fátima funcionava na máquina de arroz do Sr. Chiquinho. Seus primeiros estudos, assim como o de seus irmãos também foi na fazenda, Joaquim seu pai contratava um professor particular para ensiná-los. Depois de um tempo, para continuar os estudos mudaram-se para a cidade, morando na Av. Tiradentes. Sendo assim, ela e seus irmãos foram matriculados na Escola Paroquial Santo Antônio, que era mantida pelos frades franciscanos e pelas Irmãs Franciscanas de Allegany. Na escola, ela e sua irmã Valdete se destacavam, sempre eram as primeiras da classe, recebendo prêmios constantemente.

            Depois de um tempo, seus pais decidiram retornar para a fazenda, e para a chateação delas iriam parar de estudar, o que tanto gostavam. Joaquim foi à escola e conversou com a irmã diretora, dizendo que iria retirá-las, a irmã afirmou: Seu Joaquim não faça isso, a Benedita e a Valdete são excelentes alunas, são as melhores da classe, será ruim, elas vão perder muito com isso. Ele respondeu: Eu sei disso irmã, mas é que a gente vai voltar para a fazenda, e a Maria minha esposa não quer deixá-las na escola, pois para ela, moça dessa idade na escola é para arrumar namorado. E eu vou colocá-las no curso de corte e costura, se algum dia precisarem já saberão se arrumar na vida. E assim foi feito, saíram da escola e foram matriculadas no curso de corte e costura, um tempo depois já com bastante prática foram costurar para o Sr. Benedito Neves, um alfaiate renomado da cidade e também pai da deputada e ex-primeira dama de Anápolis Onaide Santillo.

Realizado na Igreja Santo Antônio em 18/09/1965
Casamento de Benedita e Josias
            Na adolescência, ela e sua irmã Valdete gostavam de dançar e namorar, namoro que naquele tempo era só pegar na mão e nos bailes dançar, mas tudo sob a vigia dos pais. E em um baile na casa de seu tio Olimpio Rezende, conheceu e dançou com um rapaz, que de imediato se interessou por ela. Foi assim que conheceu Josias, o seu futuro esposo. Nessa mesma época Josias foi trabalhar na olaria de Joaquim, o seu futuro sogro. Namoraram por um tempo e ficaram noivos, casando-se em 18 de setembro de 1965 na Igreja Santo Antônio. Com o casamento passou a se chamar Benedita de Fátima Araújo. Benedita e Josias ficaram morando na fazenda do pai, nascendo nessa época os filhos Jaime e Maria Amélia, depois mudaram-se para uma chácara em Miranápolis, nesse período tiveram mais dois filhos: Waltercy e Edésio. Um tempo depois se mudaram para o Campo Limpo, no qual arrendaram uma pequena chácara em que cultivavam hortaliças.  Tiveram mais um filho deu-o o nome de Elias.     Após três anos aí, em 1974 mudam-se pela última vez, Josias e Benedita constroem uma casa num lote que tinham na Vila Jaiara, têm nessa época mais dois filhos: Lucas e Josias Filho.  Josias trabalha como comerciante ambulante e feirante, e Benedita toca em casa uma pequena frutaria. Com muita dificuldade Josias e Benedita mantiveram-se firmes em sua missão, trabalharam e suaram muito para cuidar de seus sete filhos. Quando perdeu precocemente seu filho Elias, como sofreu por sua morte, uma dor que ela afirmava que só sumiria com a morte dela. Também ajudou e cuidou de muitos netos, dedicando-lhes parte de sua vida.

            A vida de Benedita foi simples e austera, sua vida resume-se no lema de São Bento, ora et labora, ou seja, reza e trabalha. Isso, foi o que ela fez de sua vida, rezou e trabalhou a vida inteira, pelo menos enquanto pode. Às vezes ela era de um gene difícil e enérgico, mas nada que não passasse. O que marca mesmo para nós, é o fato dela ter sido uma mulher conselheira, caridosa, mãe, avó e amiga, que procurava ajudar aqueles que precisavam e de uma profunda convicção na fé.  Desde que a Rádio Voz do Coração Imaculado entrou no ar em 1996, ela foi umas primeiras ouvintes e continuou enquanto pode. Não desligava o rádio, passava o dia todo com ele ligado, enquanto não se encerrava a programação do dia com a oração da noite e com o canto que ela tanto gostava, Boa Noite meu Pai. Depois disso, ia ajoelhar diante de sua cama e rezar pela Igreja, por sua família, pelas almas do purgatório e pelos necessitados. No seu dia a dia, gostava de anotar e refletir em seus caderninhos o evangelho do domingo, as frases e pensamentos de santos, as catequeses do papa, charadas e anedotas. Nos domingos, nós que éramos seus netos, ela sempre perguntava se já tínhamos ido a Missa.

Benedita e seu primo Padre Armando Ferreira 
Em 2004, o vô Josias falece e algum tempo depois, ela sofre o primeiro derrame, sempre a pressão subia e por muitas vezes ficou internada.  Teve o segundo e o terceiro derrame, esse último há três anos, e que deixou sequelas irreparáveis, perdeu o movimento do lado direito do corpo, não andando mais e também não conversando normalmente, as poucas palavras que ela falou nesse tempo foram: Nossa Senhora, Credo, que, “tadinha”, não e, uma ou duas palavras a mais. Jamais perdeu o sentindo, conhecia e ficava muito feliz com as suas visitas. Nesses três anos ela passou por um grande sofrimento, mas que ela ofereceu por amor a Jesus e pela sua purificação. Ela sempre rezava, ainda mais quando o rádio estava ligado, como ficava feliz. Como gostava das canções marianas, quanto apreço e devoção tinha por Nossa Senhora. E quando o ministro extraordinário da Comunhão Eucarística chegava então, parecia estar em êxtase de tanta alegria, levantava a mão rumo a JESUS Eucarístico e rezava.  Ali se  percebia o ápice e a grandiosidade de sua fé. 

Num livrinho de reflexão espiritual, ela deixou marcado e comentado no que acreditava. Como se pudesse saber muitos anos antes que iria passar por um sofrimento, a mensagem é a seguinte:
            - “Coloque DEUS, conscientemente, em tudo o que faz, em todos os seus problemas. E verificará que seus sofrimentos se transformarão em experiência e aprendizado. Coloque DEUS em todos os seus pensamentos, e sua vida se transformará num hino de alegria e louvor, porque as dores se esvairão como as trevas, que desaparecem aos primeiros clarões da aurora”...
Diante dessa mensagem ela escreveu comentando: “Eu acredito. Benedita de Fátima.” “Queria tanto que o meu povo conhecesse a palavra de DEUS!”.
           Em outra página vem a seguinte mensagem:
            - “Sem esforço de nossa parte, jamais atingiremos o alto da montanha. Não desanime no meio da estrada: siga à frente, porque os horizontes se tornarão amplos e maravilhosos à medida que for subindo. Mas não se iluda, pois só atingirá o cimo da montanha, se estiver decidido a enfrentar o esforço da caminhada”. Mais uma vez ela comentou, e parecia que estava angustiada: “Eu estava triste, sentindo dor! Depois que eu li, meu coração se alegrou”.

A virtude da esperança dá sentido à vida dos cristãos, em sua caminhada à vida eterna, mas, sobretudo, lhes dá firme certeza para superar as dificuldades que se apresentam, no seu dia a dia, e na busca da salvação, que será experimentada plenamente na eternidade. Perdemos alguém que parte para a vida eterna? Creio que não! Sempre devemos pensar que ganhamos para o reino dos Céus uma pessoa que muito amamos. Estará junto de Jesus aquela que o amou e continua a ser amada por Ele.

E é isso que nos consola nesse momento de dor e separação, saber que durante a sua vida e de forma mais especial nesses três anos ela se preparou, e agora está junto de JESUS na glória celeste, Aquele a quem ela tanto amou e confiou. Jesus veio bater à porta do nosso lar e chamou para Sua Divina companhia nossa inesquecível Benedita. Ela deixou no coração de cada um de nós uma lembrança viva, cheia de amor, carinho, e de uma mulher conselheira e de fé.  Senhor, nós te agradecemos pelo tempo que ela permaneceu conosco e te pedimos dai a ela o descanso eterno. 
Saudades de seus filhos, netos, familiares e amigos.  A você vó, o nosso NEOQEAV! 



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Texto escrito e lido na Missa de 7º dia, de autoria de Daniel Alves Rezende. Benedita faleceu no dia 15/05/2012, e a Missa de 7º dia realizou-se em 21/05/2012 na Paróquia Divino Pai Eterno em Anápolis-GO, sendo celebrada pelo Pe. Fidélis Stockl, ORC.


                                                 Daniel Rezende - © 2012 - Todos os direitos reservados

Um comentário:

  1. Daniel, os meus sentimentos pelo falecimento de sua avó. Rezei por ela. Continue escrevendo esse seu excelente blog. As gerações futuras ficarão agradecidas por depoimentos históricos de grande importância como é o seu Blog.

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