sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Zequinha Paniago

José Pereira Rezende foi exemplo de retidão na administração do Município de Jataí, em Goiás. A grandeza de seus atos na condução da Intendência, durante os dois períodos em que lá esteve se equilibra com o espírito de respeito e zelo pela coisa pública, demonstrados ao longo do exercício do poder. José Pereira Rezende não era só um cidadão emérito administrador de Jataí. No comércio estava a ciência que dominava, por isso esteve no ramo desde o final da primeira década de 1900. Nessa atividade pôde mostrar que constância e responsabilidade, andando juntas, fazem um empresário bem sucedido, com foi seu caso.
Antigamente, mais do que hoje, problemas sociais sempre incomodaram os poderes constituídos. Incomodavam mas nunca se deram ao trabalho de criar estruturas eficazes a fim diminuir essas desigualdades sociais. Em parte, o Estado de Goiás tinha suas razões para não enfrentar o problema porque a receita de então não comportava tamanho ônus nas suas contas, e também porque essa filosofia não fazia parte de nenhum plano de governo. Então, a ordem era: cada município que resolva os problemas como puder e entender.
Em 1924, a região de Jataí viveu difícil crise com escassez de gêneros alimentícios. Em vista dessa dificuldade penalizando a população e com constantes e abusivas altas nos preços desses produtos, José Pereira Rezende, agora como Intendente, criou uma bolsa para ser distribuída às famílias carentes, inclusive com algum dinheiro, além de doações de medicamentos aos doentes sem recursos. Para por em prática esse audacioso programa, organizou na Prefeitura um cadastro das famílias que seriam beneficiadas. Essa ajuda foi estendida aos funcionários com um aumento salarial de 20%,  pelo menos enquanto durasse a crise. Ainda, como medida para complementar seu plano, desestimulou a saída dos produtos alimentícios para outras localidades, instituindo pesadas taxas nas operações de vendas para fora do Município. Ilustrando mais o espírito comunitário de José Pereira de Rezende, vale dizer que um mendigo fizera uma casinhola (meia água) num terreno do Município. Para acertar aquela situação, mandou transferir o terreno para o nome do pedinte.

Naquela interminável época de vacas magras, Jataí não oferecia nenhum conforto aos seus munícipes, embora já se pudesse ver nas ruas esburacadas algum veículo motorizado, para deleite da criançada e - por que não dizer - dos adultos também. Aproveitando o entusiasmo e instinto de aventura de alguns pioneiros, o velho Zequinha Paniago (assim era chamado), em março de 1925, assinou convênio com Joaquim Caetano de Assis e Raul Seabra Guimarães (este de Rio Verde) para montar uma hidrelétrica no Rio Claro (seis quilômetros da cidade), construir a rede de distribuição e explorar o serviço no município durante 25 anos. Em 1926 a energia na cidade foi ligada.
Nas cláusulas estabelecidas entre as partes ficou definido que na zona urbana seriam colocadas 4.000 lâmpadas de 50 velas (watts); os prédios municipais teriam força e luz de graça; as lâmpadas queimadas na iluminação pública teriam que ser substituídas em 24 horas, sob pena de incorrer na pesada multa. Conforme se lê na crônica da época, o serviço oferecido pela empresa concessionária ficou aquém do acordado: a capacidade máxima não ultrapassou 75KWA ou 130 HP; na zona urbana, apenas 318 residências foram ligadas à rede e seis empresas se utilizaram da rede trifásica; a iluminação pública, projetada para 4.000 lâmpadas, recebeu somente 217. Mesmo assim o acontecimento foi um avanço extraordinário. Pequenas novas empresas começaram a surgir. Crise de desemprego - se havia - deixou de existir.
O ano de 1926 representou um marco divisor na história de Jataí. A partir de então, as noites dos seus habitantes se transformaram em momentos de emoção, novidade, riso incontido. Ligar uma lâmpada dentro de casa era uma coisa sensacional. Com isso, foram postas de lado as desajeitadas candeias abastecidas com óleo de mamona; aposentaram as lamparinas a querosene e deixaram de fazer velas de sebo de vaca. - Agora temos luz elétrica!
Parece que os grandes feitos não chegam de forma isolada; são predestinados. É que novamente naquele mesmo ano de 25, o intendente José Pereira Rezende dá outra boa notícia à sociedade: assinou acordo com duração de 25 anos para exploração do serviço de captação e distribuição de água potável à cidade com o jataiense José Inácio de Assis.
A Casa Rezende começou a funcionar no final da primeira década do século XX e permaneceu em atividade durante 90 anos. No detalhe, um comercial inserido no jornal O JATAHY, de 1910.

O povo estava cansado de ser explorado para ter água em casa. Até então, principalmente durante o período de seca, o líquido era transportado da fonte no Mato do Açude em carroças até às casas, e os usuários pagavam caro pelo serviço. - Era uma exploração. Essa situação já vinha de longe, desde quando o Rego Público e as bicas de madeira, construídos lá pela metade do século XIX por José Manoel Vilella, se mostraram incapazes de atender à demanda da população sempre crescente. E eis que em 1926, dentro de um período relativamente curto, o serviço de captação e a rede de distribuição de água potável foram entregues à população. Que alívio!
Hoje, analisando as medidas adotadas pela Prefeitura para forçar a população a usar da água encanada, e assim proteger os investidores deste extraordinário melhoramento, achamos curioso alguns dispositivos da lei sancionada logo depois pelo intendente José Pereira Rezende, mandando obstruir todas as cisternas existentes no perímetro urbano, o que causou certo mal estar entre os usuários desses dispositivos. Outra cláusula dizia que todo aquele que deixasse torneira aberta em flagrante desperdício, seria penalizado com pesada multa e poderia até ser suspenso o fornecimento d’água do faltoso.
A esquerda a Casa Rezende de propriedade de Zequinha Paniago
Para dar mais vigor e eficiência à sua administração, Zequinha Paniago contratou um jurista do Estado para elaborar novo Código de Posturas. 

Nesse documento foram incluídas normas para construção de casas, alienação de imóveis, formas de cálculos e cobrança de encargos municipais e outros procedimentos relacionados à administração. Esse Código foi transformado em lei em 1926. No início de 1929, como político contrário à linha adotada pelo Governo dos Caiado, para escapar das prisões arbitrarias do delegado Barros, fugiu para Uberaba, passando pelo Canal São Simão. Nessa corrida para escapar do açoite, estavam ao seu lado Salomão de Faria, Nestor Garcia de Assis, Joaquim Cândido de Carvalho, Eurico Cunha Sotto Maior e José Gedda.
José Pereira Rezende desempenhou outras funções públicas em Jataí: Foi delegado de Polícia; membro do Conselho Consultivo da Prefeitura no mandato de Manoel Balbino de Carvalho; elegeu-se vereador pela antiga UDN; foi sócio principal da firma Rezende, Peres & Cia. Ltda.; vice-presidente da primeira diretoria da Associação Comercial e Industrial de Jataí, em 1932; idealizador do Cine Teatro Imperador; empresário no ramos de curtume e banha de suínos.
Na noite de 2 de março de 1964, a Câmara de Vereadores estava reunida quando o telefone tocou para comunicar o falecimento de José Pereira Rezende. A sessão foi suspensa e o prefeito Cyllenêo França decretou luto municipal.



Fonte: http://www.jatai.not.br/Personalidades/Abertura/NAbertura.htm

Daniel Rezende - © Todos os direitos reservados

Um comentário:

  1. Daniel,
    pesquiso s/ politica no séc XX e seus atores. Qto a Goias encontrei episódios s/ um delegado Barros. No entanto, tudo superficial, e não consegui um paralelo com a politica geral. Peço a gentileza em informar se tem acesso a outras informações mais completas s/ ele ou me indique o caminho p/ procurar. Moro no Espirito Santo e não tenha nenhum conhecimento em Goiais. Antecipo meus agradecimentos. Obrigado! Carlos M. Rocha

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