1ª capela construída a partir de 1846 |
A história oficial de Uberlândia trata Felisberto Alves Carrejo como fundador¹ da cidade. Discordo um pouco dessa visão, uma vez que na localidade já havia certo contingente populacional, e também a presença pioneira da família de João Pereira da Rocha². Portanto havia uma povoação, o certo é que Felisberto era um letrado no meio da maioria analfabeta. E isso facilitou para que ele em nome dos demais corresse atrás do necessário para a constituição legal do arraial. Tanto que foi escolhido pelos moradores para representar os interesses do arraial, junto à Vila de Santo Antônio do Uberaba. Pode-se afirmar que Felisberto foi um dos fundadores do arraial. Segundo Tito Teixeira na obra Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central, Felisberto em companhia de seus irmãos e demais familiares chegaram a localidade por volta de 1835, e adquiriram terras de José Diogo da Cunha e João Pereira da Rocha, e as dividiram-na em quatro fazendas, denominando-as a saber: Olhos d’água, Laje, Tenda e Marimbondo.
Na fazenda Tenda, de sua propriedade, Felisberto fundou a primeira escola da região. Tinha preparo e conhecimento para isso, pois havia estudado no seminário dos Padres Catequistas, na então Vila de São Bento do Tamanduá, hoje Itapecerica de Minas. Lá também aprendeu a profissão de ferreiro, o qual posteriormente abriu uma oficina em sua fazenda. O próximo passo de Felisberto foi lutar pela construção de uma capela, o que se inicia em 1846. Encontrou fácil apoio da população, que a medida do possível fazia suas contribuições para a construção da mesma. Também foi aclamado pela população como inspetor paroquial, ficando responsável a representar e prestar contas, se necessário as autoridades eclesiásticas.
Matriz de Nª. Senhora do Carmo em fins de 1920, ainda permanecendo as características arquitetônicas de 1860. |
Em 27 de dezembro de 1849, José Martins Carrejo, filho de Felisberto é ordenado sacerdote na Catedral de Sant’Ana da Vila Boa de Goiás. Uma vez que o Triângulo Mineiro estava sobre jurisprudência eclesiástica do bispado de Goiás. Padre Carrejo foi designado para chefiar a Paróquia da Aldeia de Sant’ Ana do Rio das Velhas, hoje Indianópolis³. Até então, a igreja mais perto de Uberabinha (cerca de 35 Km). Para lá que a população ia para cumprir seus deveres religiosos. Com a inauguração da primeira capela em 1853, as coisas facilitaram e não precisavam se deslocar a tal distância. A igreja recebeu o orago de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. No adro da igreja, foi feito o primeiro cemitério. Sobre a primeira invocação ressalta-se que foi escolhida por Felisberto, pois em sua família havia uma tradição muito forte a Nossa Senhora do Carmo. Prova disso é que as mulheres de sua família carregavam na assinatura o nome religioso do Carmo.
Felisberto Alves Carrejo |
Na ausência de um padre cura, o Pe. Carrejo se deslocava de Indianópolis para Uberabinha a fim de realizar as celebrações. Às vezes ele acabava ficando uma temporada por lá, junto de sua família. Isso permaneceu até que foi designado o primeiro vigário, Antônio Joaquim de Azevedo. Agora Uberabinha pôde contar com um padre de forma definitiva e o Pe. Carrejo passou a ser o coadjutor. Com o objetivo de dar forma jurídica às terras adquiridas em consentimento dos vinte e um proprietários, os procuradores, promoveram a divisão e demarcação daquele patrimônio perante o juiz municipal de Uberaba, em outubro de 1857, no arraial já denominado de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro de Uberabinha. Nesse mesmo ano, a capela curada passa a ser freguesia e se viu necessário a ampliação da igreja, pois a mesma já contava com 3000 almas. É em 1861, que a mesma vai ser elevada a condição de paróquia, continuando com a mesma invocação. Felisberto Alves Carrejo vem a exercer também, o cargo de juiz de paz. Com o seu falecimento, é Francisco Alves Pereira que substitui Felisberto a frente do arraial e da continuação das obras na igreja. Enfim, Felisberto tem um papel relevante na história do município de Uberlândia. Foi graças a ele e aos demais homens da terra, cujos nomes a história oficial insiste em ignorar que se deu a fundação do arraial de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra de São Pedro do Uberabinha, e que se tornou, na pujante cidade de Uberlândia.
NOTAS
¹ Felisberto Alves Carrejo foi oficialmente considerado fundador da cidade em 1964.
² Oriundo de Cachoeira do Campo, João Pereira da Rocha chegou a região por volta de 1818. É em 1821 que recebe uma carta de sesmaria, oficializando as posses realizadas. O resultado dessa sesmaria dá-se na fundação da Fazenda São Francisco.
³ Essa cidade foi fundada pelo Cel. Antônio Pires de Campos por volta de 1740. O mesmo chefiou 3000 índios Bororôs num terrível combate contra os temíveis índios Caiapós. Constitui umas das povoações mais antigas do Triângulo Mineiro. Com a anexação à Goiás, passou a ser posto alfandegário com a missão de fiscalizar a estrada São Paulo – Goiás. Posteriormente esse posto foi transferido para Desemboque, situado na margem direita do Rio Grande.
REFERÊNCIAS
TEIXEIRA, Tito. Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central. 1º vol. 1ª Ed. Uberlândia: Uberlândia Gráfica, 1970.
ARANTES, Jerônimo. Cidade dos Sonhos Meus: Memória Histórica de Uberlândia. Uberlândia: Edufu, 2003.
SILVA, José Trindade da Fonseca (cônego). Lugares e pessoas - Subsídios eclesiásticos para a história de Goiás. 1º vol., São Paulo: Escolas Salesianas, 1948.
Acervo Eclesiástico da Catedral Santa Terezinha – Uberlândia – MG.
Acervo Onofre Rezende – Seção de Documentos – Anápolis – GO.
FOTOS
Acervo do Arquivo Público de Uberlândia
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