segunda-feira, 24 de junho de 2019

FAMÍLIA PANIAGO: DESBRAVADORA DOS SERTÕES DO BRASIL CENTRAL







Família Paniago: desbravadora dos sertões
do Brasil Central

DANIEL ALVES[1]

Laudemus viros gloriosos, et parentes nostros in generatione sua” é a primeira frase apresentada no capítulo 44 do Livro do Eclesiástico, escrito pelo mestre de sabedoria judeu Ben Sirá no século II a.C. Em tradução simplificada do latim, poderíamos assim entender: “Façamos o elogio dos homens ilustres, nossos antepassados através das gerações”. Creio que unido aos sentimentos do autor bíblico surge o primeiro encontro da Família Paniago, para reverenciar os antepassados e brindar a vida dos familiares presentes.
Sempre fui curioso e atento as histórias e estórias contadas em família, sobretudo, as relatadas por minha avó materna Benedita de Fátima Rezende (1943-2012). A prosa convergia em torno dos Rezende e afins, mas, em um belo dia ouvi pela primeira vez o sobrenome Paniago, quando ela contou que em sua terra natal - Uberlândia - havia um primo de segundo grau chamado Antônio Paniago. A partir dali, o inusitado sobrenome jamais sairia de minha mente.
Em visita a Uberlândia no ano de 2009, conheci o primo Waltecir Cardoso - neto de Miguel José Paniago - que interessado pela história da família e instigado por seu irmão Altair, escreveu o livro “Entre Parentes – Memória e Genealogia”. Rapidamente o li e o analisei, compreendendo a genealogia exposta e suas ligações. No entanto, todo bom autor tem seus padecimentos, ainda mais quando deseja provar algo que seja carente de comprovação documental. Assim, por mais que haja sólidas evidências, o fato permanece no campo da hipótese.
Na mesma semana marchei para a Catedral Santa Terezinha em busca de registros nos antigos livros paroquiais, após folhear minuciosamente páginas e páginas amareladas pelo tempo, um precioso registro apareceu. Em 27 de julho de 1875, na antiga Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo em Uberlândia casaram-se meus tetravôs Dâmaso Ferreira da Fonseca e Mariana Luciana de Rezende. Ao ler a filiação dos cônjuges, fiquei estupefato, pois, minha tetravó Mariana (1853-1918) era filha de Antônio Joaquim Paniago e Anna Maria de Rezende.
Por meio do mesmo esquema descobri que outra tetravó, Maria Magdalena de Jesus (1858-1922), era a filha caçula de Antônio Joaquim e Anna Maria. Assim, irrevogavelmente o sangue dos Paniago corria em minhas veias. Mas, afinal de contas, quem era esse casal? Provavelmente de origem espanhola, Antônio Joaquim Paniago chegou ao Brasil na primeira metade do século XIX e estabeleceu moradia na antiga Aldeia de Sant’Ana do Rio das Velhas, hoje Indianópolis (MG).
Já a mineira Anna Maria de Rezende era filha de Manoel Machado Rodrigues e Mariana Alves Rabello, que morrera antes da filha completar dois anos de idade. Coube sua criação a avó materna Luciana Alves de Rezende, que lhe deu o sobrenome. Aos dezesseis anos casou-se com Antônio Joaquim Paniago, com quem teve onze filhos, a saber: Antônio José Paniago, José Joaquim Paniago, Manoel Joaquim Paniago, João José Paniago, Bento José Paniago, Francisco Paniago, Anna Luciana de Rezende, Maria Rosa de Rezende, Maria Joana de Rezende, Mariana Luciana de Rezende e Maria Magdalena de Jesus. Como se nota, os homens herdaram o sobrenome do pai, enquanto as mulheres o da mãe.
O primeiro filho do casal, Antônio José, nasceu em janeiro de 1840 e foi batizado na Igreja Matriz da Aldeia de Sant’Ana a 19 do mesmo mês. Foram padrinhos o avô Manoel Machado Rodrigues e a bisavó Luciana Alves de Rezende, conforme se atesta no registro. Com os irmãos formou-se na lida diária da roça, na lavoura e na criação de animais, porém, o pai, lhe ensinaria algo mais, o ofício de carpinteiro, que o levaria mais tarde a fabricar carros de boi. Outro grande legado deixado aos filhos do casal foi à alfabetização, coisa rara na população rural do século XIX. Embora, a mãe Anna Maria fosse analfabeta, sua família possuía muitos letrados, o que certamente influenciou no aprendizado dos filhos.
Sábado, 2 de outubro de 1858. Uma triste notícia se abateu na Fazenda do Rio Claro, local de residência dos Rezende, Rabello e Paniago. O patriarca Antônio Joaquim Paniago faleceu deixando Anna Maria viúva aos 36 anos com onze filhos para criar. Antônio, o mais velho já contava com 19 anos e a caçula Maria Magdalena com apenas seis meses. Jovem maduro, trabalhador e conhecedor das coisas, emancipou-se por decisão do juiz de órfãos de Uberaba, que também o nomeou tutor dos irmãos menores.
 A ele cabia a administração de suas heranças até que alcançassem a maioridade, naquela época, obtida aos 21 anos. Assim, Antônio tornou-se o esteio da mãe, ajudando-a nos negócios da fazenda e na formação dos irmãos menores, que se debruçavam no trabalho. Eram 104 alqueires na Fazenda do Rio Claro e em torno de 24 alqueires repartidos entre as fazendas Rocinha, Registro, Macaúba e Taquaral. A maior parte adquirida por herança da família de Anna Maria e o restante por compras que Antônio Joaquim fizera.
O tutor cuidava também dos interesses de seus irmãos e lhes arrumava casamento, não antes de pagar uma taxa ao Estado, que expedia a devida licença. Com isso os irmãos menores eram emancipados e podiam receber suas heranças (homens), já às das mulheres eram repassadas a administração dos maridos, assemelhando-se a um dote. Nesta altura, Antônio José também encontrou sua companheira, Maria Cândida de Jesus, que pertencia à família Martins Veloso e, para homenagear o pai falecido, passou a assinar o mesmo nome, Antônio Joaquim Paniago.
Os primeiros filhos nasceram em São Pedro de Uberabinha, hoje Uberlândia-MG, porém, o futuro estava reservado bem distante dali. Após o final da Guerra do Paraguai em 1870, propagandeou-se no Triângulo Mineiro sobre as facilidades de adquirir enormes quinhões de terras devolutas nos sertões mato-grossenses ou no Sudoeste Goiano. Assim, chegaram os Cândido de Rezende a região de Terenos em 1871, os Lino de Rezende a região de Anhanduí, Campo Grande em 1875 e também alguns membros da família Carrijo.
Esporadicamente, chegavam a Minas, notícias da então Província do Mato Grosso, que incutiam em Antônio o desejo de seguir o rastro dos parentes e desbravar aquelas terras. Em Uberabinha nada mais o prendia, todos os irmãos estavam casados, com exceção da caçula que estava no convívio da mãe e do padrasto, Manoel Adriano da Silva.  Assim, o aventureiro com a esposa Maria Cândida e os filhos pequenos despediram-se de todos e partiram em carro de boi pela velha estrada em direção ao Mato Grosso.
Depois de percorrer aproximadamente 400 quilômetros, chegaram a Vila de Sant’Ana do Paranaíba, cujo território era disputado pelas províncias de Mato Grosso e Goiás. Descansaram por uns dias e pediram informações para seguir a jornada. Com o carro na estrada bateram para a região do Rio Verde e se estabeleceram na margem direita deste, cujo território pertencia à época, ao extenso município de Nioaque. O arraial mais próximo dali distava 180 quilômetros e possuía algumas choupanas dispersas e um comércio tímido. Era Campo Grande, que mais tarde, em 1889, tornar-se-ia distrito de Nioaque e dez anos depois, município autônomo.
 Da Fazenda Rio Verde - também chamada de Velha - localizada hoje no município de Ribas do Rio Pardo (MS), nasceria à frondosa árvore dos Paniago, cujos galhos e ramos se estenderiam pelos atuais estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Ali, em meados de 1880, Antônio Joaquim Paniago Filho começou sua vida nova, derrubando matas para o plantio e a criação de gado, para isso, teve que enfrentar feras e índios bravios. Mas, o que lhe faria mais conhecido em toda a região seria o ofício artesanal que o pai lhe ensinara, o de fabricar carros de boi. Em pouco tempo seus carros tornaram-se afamados e inúmeros fazendeiros dos sertões do antigo Mato Grosso vinham lhe fazer encomendas. Enquanto, ele se entretinha com a confecção dos carros, os filhos ficavam por conta da lida da fazenda.
Na nova terra, Antônio Joaquim e Maria Cândida teriam mais filhos, onze ao todo, alguns eram mineiros e outros mato-grossenses. Sendo eles: Rosalina Maria de Rezende (1865), Antônio Martins Paniago (1866), José Martins Paniago (1872), Elias Martins Paniago, Manoel Martins Paniago, Bento Martins Paniago, Deolinda Maria, Cândida Maria (1881), Genoveva Maria, Maria Jesuína e Lucinda Maria de Rezende. A infância trazia poucas diferenças da vida adulta, pois, aprendia-se desde cedo a apartar o gado, a moer cana no engenho e a capinar, dentre outros. Em alguns anos, os filhos já estavam crescidos e na “idade de casar” e o que os pais decidissem, estava irremediavelmente decidido, pois, os casamentos eram arranjados. Restava então, marcar a cerimônia na Igreja ou esperar o padre em dia de desobriga.
De acordo com as fontes acessadas, dentre elas, o livro Família Augusto Paniago Nogueira, publicado pelo primo João Batista Nogueira em 2010, tentamos expor o caminho seguido pelos filhos do casal patriarca. Rosalina Maria de Rezende (1), a mais velha, casou-se com o mineiro Pedro Martins Pereira, fazendeiro do Alto Sucuriú com quem teve os filhos Maria Izabel, Manoel, José e Clemente Raimundo Pereira. Viúva, em 1896, une-se a Luiz Gonzaga Nogueira, também viúvo e morador da região do Rio Sucuriú, com o qual teve os filhos Augusto, Sebastião e Genoveva Nogueira. Casou-se novamente, em 1908, com João Maciel do Carmo e teve as filhas Angelina e Maria Olinda. Em 1935, falece Rosalina deixando grande descendência.
Aos 19 de outubro de 1866, nascia em São Pedro de Uberabinha (hoje Uberlândia-MG) Antônio Martins Paniago (2) que em 09 de novembro seguinte seria batizado na antiga Matriz de Nossa Senhora do Carmo e São Sebastião. O registro traz um detalhe interessante, pois, o sobrenome Paniago é apresentado sob a forma espanhola Paniagua. Criado nas terras sul-mato-grossenses casou-se primeiramente com Josefa Joaquina de Menezes, com quem teve os filhos Manoel Martins Sobrinho, casado com Guilhermina Garcia Martins; Emília Paniago, casada com Epaminondas Cândido; José Martins Sobrinho (Zeca Sobrinho); Francisco Martins Paniago; Maria Martins Paniago e Belmira Paniago. Viúvo, Antônio casou-se com Teresa Delfina de Jesus e tiveram os filhos João, Bertolino, Friciano, Josefa, Flausina, Rosário e Doralina, falecendo bastante idoso em fins da década de 1940.
Em sequência aos filhos de Antônio Joaquim e Maria Cândida, temos Maria Paniago (3) que no entender do escritor José Corrêa Barbosa, chamava-se Jesuína. Divergências do nome a parte, ela casou-se com Manoel Rodrigues Ferreira (Nina), com quem teve os filhos Josefa, Maria Feliciana, Maria Belonísia, Antônio, José, Manoel, Heliodoro, Elias, Francisco, Domingos, Onofre, Genésio e Álvaro, todos de assinatura Rodrigues Ferreira. Já, José Martins Paniago (4), nasceu em 20 de agosto de 1872 em Uberabinha, onde foi batizado. Com Maria Abadia Dias, filha de Luiz Gonzaga Nogueira e Maria Joaquina Dias casou-se, deixando os filhos Antônio, Belmira, Bertolino, Jovina, Severo, dentre outros, que levavam os sobrenomes Dias Paniago. No ano de 1922, faleceu José em sua fazenda, próxima ao Rio Verde.
Elias Martins Paniago (5) casou-se com sua sobrinha Maria Izabel, filha de Pedro Martins Pereira e Rosalina Maria de Rezende. Ao que se sabe, tiveram os filhos Camilo, Jacinto, Manoel, Olívia, Lourdes, Doralina e Targino. Em fotografia do ano de 1911, o casal e um filho pequeno aparecem vestidos elegantemente, no colete de Elias observa-se até mesmo um relógio de bolso, objeto caríssimo naquela época. Manoel Martins Paniago (6) casou-se com Deolinda de Rezende, homônima de sua irmã e se estabeleceu na região de Mineiros (GO). O casal deixou ao menos os filhos Alvina, Elias, Antônio, Delminda, Aristino, Genoveva, Maria Sebastiana, Maria Benedita, Maria Rita e Ibrantina, estas três últimas, religiosas da Congregação Salesiana. De um modo geral, os descendentes de Manoel e Deolinda concentram-se nas regiões de Mineiros, Santa Rita do Araguaia e Alto Araguaia.
Por sua vez, Deolinda Maria de Rezende (7) e Lucinda Maria de Rezende (8) casaram-se com dois irmãos, respectivamente, José Luiz Nogueira e João Luiz Nogueira. Estes eram filhos de Luiz Gonzaga Nogueira e sua primeira esposa Maria Joaquina Dias. Deolinda faleceu em 1924 e Lucinda em 1945, deixando vasta descendência. Cândida Paniago (9) era casada com Luiz Cândido Pereira, cujos filhos desconhecemos. Por último, temos Genoveva (10) e Bento (11), falecidos provavelmente na infância.
Pouco depois do estabelecimento de Antônio Joaquim Paniago na Fazenda Rio Verde, chega à região seu irmão Bento José Paniago e família, que adquire a Fazenda Estiva, uma propriedade de 5000 mil hectares. Onde com sua esposa Maria Rita de Cássia cria nove filhos. Com a morte desta em 1892 e também devido a querelas familiares, vendeu a propriedade e seguiu para a região de Coxim. Em Jataí (GO), casou-se no ano de 1893, com Amélia Basília de Jesus, tendo mais quinze filhos. Não tardou para que Bento se tornasse um fazendeiro rico e bem sucedido, em sua fazenda de Jataí, além da lavoura e criação de gado, possuía três empreendimentos, sendo um engenho de açúcar, um engenho de serra e uma olaria. Enquanto que, na fazenda de Coxim, dedicava-se especificamente à criação de gado, assim, dividia-se entre os dois locais. Em torno dos 60 anos de idade, morreu Bento José Paniago na cidade de Jataí em 1915, deixando os filhos Antônio, Joaquim, Maria, Zeferino, Luiz, Francisco, José, João e Virgilina da primeira união. Além de Pedro, Custódio, Belmiro, Sebastião, Manoel, Basílio, Maria, Sebastiana, Laurinda, Luiza, Idalina, Etelvina, Laudelina, Jesuína e Lídia do segundo enlace.
O fato é que ao sair do Triângulo Mineiro para desbravar as terras do antigo Mato Grosso em fins do século XIX, os pioneiros da família Paniago edificaram uma progênie numerosa e abençoada, que tem no trabalho árduo uma das suas maiores marcas. Então, nada mais justo do que rememorarmos a história de nossa família, cuja árvore se destaca pelos bons frutos.

REFERÊNCIAS:

BARBOSA, José Corrêa. A saga dos Rodrigues: 150 anos de história em Mato Grosso do Sul. Campo Grande, IHGMS, 2005.
CARDOSO, Waltecir José. Entre Parentes: História e Genealogia. Uberlândia: Composer, 2005.
CUNHA, Marlei. Costa Rica: História e Genealogia. 2ª Ed. Costa Rica: Editora Caiapó, 2009.
NOGUEIRA, João Batista. Família Augusto Paniago Nogueira. Brasília: Duo Design, 2010.
Arquivo Público de Uberaba – Documentação do Poder Judiciário, varas cíveis.
Arquivo da Diocese de Uberlândia – Livros de registros paroquiais de Indianópolis e Uberlândia.
Documentos do acervo particular do autor.


Artigo publicado na Revista Comemorativa da Família Cândido e Paniago, lançada em 6 de setembro de 2018 no I Encontro da Família em Paraíso das Águas - MS. 




Editorial: Marlei Cunha; Arte e diagramação: Terena Cunha; Pesquisadores e redatores: Daniel Alves Rezende, João Batista Nogueira, Marlei Cunha, Ronildo Garcia e Waltecir Cardoso.




[1] Nasceu na cidade de Anápolis (GO) no ano de 1990. É graduado em História pela Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Pós-Graduado em Docência Universitária pela Faculdade Católica de Anápolis.  Em 2014, publicou seu primeiro livro: De Antas a Anápolis – a História de formação do Município” e editou em 2016, o livro-álbum “Diocese de Anápolis – 50 Anos”. Desde o ano de 2008, dedica-se as pesquisas genealógicas no intuito de aprofundar sobre a história familiar. É pentaneto de Antônio Joaquim Paniago e Anna Maria de Rezende. 



Daniel Rezende - © 2019 - Todos os direitos reservados

sábado, 5 de agosto de 2017

Arlindo Gomes Rodrigues - Uma biografia

Por Maria Inêz Rodrigues Mendes *

A
rlindo Gomes Rodrigues nasceu em Uberlândia, na região da Fazenda do Marimbondo, no dia 19 de abril de 1913. Era filho do fazendeiro Víctor Rodrigues de Rezende e de Virgilina Laudelina Martins (Vilica), sendo neto paterno de Elias Rodrigues Martins e Maria Magdalena de Jesus e materno de Antônio Gomes Martins e Anna das Dores Martins. Enfim, era também trisneto do fundador da cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Felisberto Alves Carrejo (1795-1872).

Desde cedo, dedicou-se aos trabalhos na fazenda, auxiliando seu pai na ordenha do gado, no plantio de grãos e na lida em geral da roça. Estudou na escola da fazenda até a quarta série primária, ou seja, concluiu os primeiros anos do Ensino Fundamental. Possuía facilidades nos cálculos matemáticos e se destacava nas atividades que envolviam o raciocínio lógico-matemático. Foi cooperador salesiano do Colégio Dom Bosco, escrivão de leilão nas festas da Igreja de Nossa Senhora Aparecida, atual Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Uberlândia. Doou bancos para os sacerdotes colocarem na praça. 

 Virgilina e Victor, pais de Arlindo

Em 1936, casou-se com Zulmira Ferreira Gomes, sua prima - filha de Mudesto Ferreira de Rezende e Thereza Maria de Jesus - com a qual teve seu único filho, Armando Gomes Rodrigues. Após cinco anos ficou viúvo e casou-se pela segunda vez, em 1944, com Gerarda Ferreira do Couto (Nena), a qual criou e cuidou do seu filho, Armando, com muito amor e carinho. Não teve filhos, no segundo casamento.

Arlindo e Zulmira, sua 1ª esposa
Armando, filho de Arlindo
Na década de 1960, foi dono de um estabelecimento comercial de "secos & molhados". O “Armazém Brilhante” possuía uma enorme variedade de produtos, “tinha de tudo”! Duas coisas estavam sempre presentes: a balança no balcão da marca Filizola e as conchas nas sacas de cereais. Pesava-se o arroz, a farinha, o milho, o feijão e muitos outros itens (até o fumo). Eram vendidos a granel. Acondicionados em saquinhos de papel. 

Foi “engenheiro e arquiteto” da construção de um sobrado onde morou durante dez anos, em frente a Praça Nossa Senhora Aparecida, na avenida João Pinheiro. Hoje, no térreo, é a atual residência de seu filho, Armando Gomes Rodrigues. E no primeiro andar, encontra-se o Espaço Criativo, local de assessoria e consultoria pedagógica, administrado pela neta, Maria Inêz Rodrigues Mendes.

Banco com propaganda do Armazém de Arlindo

Apreciador e participante dos comícios do PSD (Partido Social Democrático): na época foi o maior partido da República Populista, que atingiu o maior número de votos e o maior vencedor das eleições presidenciais no período. Era composto pela classe média e representantes dos setores empresariais. Tinha uma grande bancada no governo e dele faziam parte Juscelino Kubitscheck.

Comício político do PSD

Arlindo ficou conhecido pela população uberlandense graças a seu trabalho como comerciante íntegro, honesto, justo, leal, inteligente e carismático. Era procurado pelos amigos como consultor de novos negócios. Trabalhava como voluntário nas obras da igreja, Arlindo era acostumado a ser procurado também pelos familiares para qualquer tipo de ajuda, seja financeira, aconselhamento, ou para mero acolhimento devido à sua reputação ética e moral. 

Na década de 1980, foi homenageado pelos políticos uberlandenses, que reconheceram seus prestimosos trabalhos, atribuindo seu nome a uma rua no Bairro Segismundo Pereira, em Uberlândia, Minas Gerais. Arlindo Gomes Rodrigues faleceu de infarto agudo do miocárdio, ou ataque cardíaco, no dia 23 de outubro de 1976, em casa, após chegar de um comício político. 


Maria Inêz é professora e consultora pedagógica em Uberlândia.


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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Famílias Pereira, Rezende, Carrijo e Paniago - algumas descobertas familiares



Desde o ano de 2008, venho pesquisando continuamente sobre as famílias Paniago, Rezende, Pereira e Carrijo, ambas oriundas do Triângulo Mineiro e interligadas entre si, por conta de inúmeros casamentos numa relação de quase 200 anos. Já na infância ouvia de minha avó materna, Benedita de Fátima Rezende (1943-2012) e outros familiares, 'estórias' e mais histórias sobre a família. Sobretudo, dos que moravam em Uberlândia e dos outros que vieram para Goiás.

Também ouvia muitas histórias que pareciam lendárias, fascinantes e as vezes tristes, como índias pegas a laço em Araxá e feitas de esposas; escravos que não foram embora das fazendas quando houve a abolição da escravatura pela Regente Princesa Isabel em 1888.  De estrangeiros que haviam se mudado para os grotões do Brasil, isto é, para o Sertão da Farinha Podre, até então um mero local de passagem entre as Províncias de São Paulo e Goiás, caminho esse remanescente da antiga estrada chamada “Picada de Goyaz” ou “Picada do Anhanguera”, pois, tinha sido aberta por Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera em busca das minas de ouro dos índios Goyazes (guaiases).

O Triângulo Mineiro do século XIX não era muito diferente do século anterior, pois, quando o sertanista e pioneiro João Pereira da Rocha[1] chegou à região compreendida entre os rios Araguari (das Velhas) e Uberabinha em 1818, esse território era formado por poucas fazendas e ainda com muitas terras devolutas. As povoações existentes no Triângulo talvez não fossem mais do que Uberaba, até então um pequeno arraial com pouco mais de uma dúzia de casas e uma pequena igreja dedicada a Santo Antônio; Desemboque, um antigo julgado da Capitania de Goiás; Araxá, também se constituía nessa época como um julgado; Aldeia de Sant’Ana do Rio das Velhas, hoje Indianópolis, fundada por padres jesuítas em meados do século XVIII; Patrocínio, também um arraial ínfimo e por fim muitos índios das nações Caiapó e Bororô. Cidades como Sacramento, Araguari, Ituiutaba, Estrela do Sul, Prata, vieram a surgir alguns lustros depois.

Quando os Pereira chegaram ao atual território de Uberlândia, pouquíssimas famílias estavam radicadas na região e entre elas havia uma predominância de mineiros que procuravam novas terras para ocupar. Após uma década de estabelecimento dos Pereira, que ocasionou na fundação da Fazenda São Francisco de Assis, chegaram de Campo Belo os irmãos Carrejo, Luiz, Francisco, Felisberto e Antônio Alves Carrejo (Carrijo) com seus respectivos familiares. Na verdade, a historiografia uberlandense não trabalha de forma mais profunda sobre essa chegada, e dá a ela, motivações não muito esclarecidas, as quais entraremos em detalhes no livro que estamos produzindo.

Através de documentos históricos e inéditos encontrados em nossa pesquisa, descobrimos que os Pereira/Rezende e os Carrijo são aparentados e procedem de um ancestral comum. Assim, o pai dos irmãos Carrejo, José Alves Carrejo nascido na atual cidade de Itabirito em 1752 era irmão de Quitéria Maria da Conceição, casada com Caetano de Souza Rezende, sendo estes pais de Genoveva Alves de Rezende, esposa de Pereira da Rocha. Desse modo, os irmãos Luiz, Francisco, Felisberto e Antônio Alves Carrejo eram primos de primeiro grau de Genoveva e de seus irmãos José e Caetano Alves de Rezende[2]. Os filhos de João e Genoveva foram batizados com os sobrenomes Alves e Pereira, o primeiro por conta da mãe e o segundo pelo pai. Como vimos, o sobrenome Alves encontrado nos filhos de João Pereira da Rocha provinha da família Alves Carrejo, que originalmente em Portugal era Álvares Carrejo, sendo o Alves uma forma de abreviar aquele sobrenome. Também a segunda esposa de Pereira da Rocha, dona Francisca Alves Rabello era aparentada dos irmãos Carrejo.

A historiografia uberlandense afirma que um filho de Pereira da Rocha necessitava de serviços de ferreiro na Fazenda São Francisco, e que sabendo da existência de bons profissionais desse ramo em Campo Belo, partiu para lá para buscá-los. Isso pode até ser verdadeiro no sentido de que realmente precisava-se de um ferreiro, agora o equívoco está em pensar que os Pereira e os Carrijo se conheceram aí, ledo engano conforme pudemos atestar em nossa pesquisa. Eles se conheciam há muito tempo e mais do que isso, eles eram parentes e provavelmente as notícias corriam entre Campo Belo e o Sertão da Farinha Podre.

O primeiro irmão Carrijo a se transferir para o Triângulo foi o Luiz, que adquiriu terras de Pereira da Rocha e outros, depois vieram os demais. Luiz ficou com a parte maior de terras, porém para equilibrar as partes redividiu sua propriedade, vendendo-as aos outros irmãos, assim essas quatro glebas ficaram conhecidas: Fazenda Lage, de Francisco Alves Carrejo; Fazenda Olhos d’Água, de Luiz Alves Carrijo; Fazenda Marimbondo, de Antônio Alves Carrejo e por último a Fazenda da Tenda, de Felisberto Alves Carrejo. Entre os irmãos Carrejo, o que mais se destacou foi Felisberto Alves Carrejo[3] (1795-1872), que montou em sua fazenda uma tenda de ferreiro, nome pela qual ficou conhecida, ali também criou uma pequena escola e passou a lecionar para as crianças da região. Depois, com a ajuda de seu primo segundo, o capitão Francisco Alves Pereira (1806-1876) e do povo da região, conseguiu edificar em 1846 uma pequena capela em devoção a Nossa Senhora do Carmo em terras que pertenciam à dona Francisca Alves Rabello, viúva de João Pereira da Rocha. 

Felisberto Alves Carrejo


O local escolhido para essa construção foi entre os córregos São Pedro e das Galinhas (hoje, Cajubá), que desaguam no Rio Uberabinha. Em torno dessa ermida foi surgindo então às primeiras casas, dando formação a um pequeno arraial. Pela Lei Provincial n.° 602, de 21 de maio de 1852 o povoado passou a Distrito de Paz com a denominação de São Pedro de Uberabinha pertencente ao Município de Uberaba e tendo como primeiro Juiz de Paz o próprio Felisberto Carrejo. Ainda sobre a pequena igreja, a primeira celebração foi realizada pelo padre José Martins Carrejo, que era vigário colado da Paróquia de Sant’Ana do Rio das Velhas, hoje Indianópolis. 

Primeira Capela de Uberlândia, dedicada a Nossa Senhora do Carmo


Padre Carrejo era o segundo filho de Felisberto e aos 15 anos entrou para o Seminário de Santa Cruz da então Diocese de Goiás, na antiga Vila Boa. Uma vez que, mesmo sendo transferido para Minas Gerais em 1816 (em matéria político-administrativa), o Triângulo Mineiro em matéria eclesiástica pertenceu ao Bispado de Goiás até o ano de 1907, quando então foi criada a Diocese de Uberaba, tendo como primeiro bispo Dom Eduardo Duarte da Silva. Entretanto, padre Carrejo sempre exerceu seu ministério no Triângulo, por conta da proximidade com a família em Uberabinha. Sendo assim, foi o primeiro pároco após a restauração da Paróquia de Sant’Ana de Indianópolis em 1870 e também pároco de Sacramento, São Francisco de Salles, Nova Ponte, Santa Maria, hoje Miraporanga, vindo a falecer no ano de 1898.

Quanto aos Paniago, os documentos até agora encontrados apontam que ao saírem da Espanha para o Brasil, os Paniago se estabeleceram na região goiana entre Catalão e Ipameri. Por intermédio de nosso amigo e familiar, padre Murah Peixoto Vaz (descendente dos Peixoto Carrijo) encontrou-se em Ipameri, antiga freguesia do Divino Espírito Santo do Vaivém um registro matrimonial importante, o qual transcrevemos:


 “Aos 18 de Fevereiro de 1851, nesta Matriz do Divino Spirito Santo do Vay   vem, pelas dez horas d’amanhã, receberão se Matrimonio os Nubentes Bento Jose Paniago e Claudina Maria Dutra, perante mim, e duas testemunhas os Coroneis Roque Alves de Azevedo e Francisco Ferreira dos Santos, e eu lhes dei as Benções Nupciaes. E para constar faço esse assento que assigno. O Vigrº. Joaquim Ignacio Rodrigues”.


Acreditamos que, possivelmente o Bento José Paniago supracitado, era irmão de Antônio Joaquim Paniago, morador no Triângulo e que se casou com Anna Maria de Rezende, sobrinha-neta de Genoveva Alves de Rezende e de seu marido João Pereira da Rocha. Pois, Antônio e Anna Maria deram em 1854 ao seu nono filho, o nome de Bento José Paniago e isso só poderia ser em homenagem ao irmão de Ipameri. Mais tarde, por volta de 1880, o Bento Sobrinho mudou-se de Uberabinha para o Mato Grosso e depois para Goiás, sendo um grande fazendeiro no município de Jataí, onde faleceu em 1915, deixando uma distinta e numerosa descendência no Sudoeste Goiano e no Mato Grosso. 

Bento José Paniago Sobrinho (1854-1915), sua segunda esposa Amélia Basília de Jesus e a filha Etelvina


Ainda em 1875, na antiga Matriz de Nossa Senhora do Carmo de São Pedro de Uberabinha, Bento (Sobrinho ou de Jataí) havia se casado com sua parenta, Maria Rita de Cássia, filha de José Thomaz Peres e Rita de Cássia Alves Pereira. Esta última era a filha caçula de João Pereira da Rocha e de Genoveva Alves de Rezende e casou-se em primeiras núpcias com seu parente Manoel Gomes Pereira, deixando da primeira união um único filho, João Gomes Pereira.

Enfim, não posso contar mais, porém garanto que essas e outras histórias estarão contidas no livro que estou escrevendo sobre a origem de Uberlândia, que terá um caráter histórico-genealógico, revelando a saga das famílias pioneiras que desbravaram o atual território uberlandense há dois séculos.



Daniel Alves Rezende

- Historiador -


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[1] Faleceu em 1845 e foi sepultado na Aldeia de Sant’Ana dos Rio das Velhas, hoje Indianópolis. O autor deste texto é hexaneto (sexto neto) de João Pereira da Rocha e de sua primeira esposa Genoveva Alves de Rezende, perfazendo a seguinte linha de sucessão: João Pereira da Rocha (+1845) < Rita de Cássia Alves Pereira (1826-1861) < João Gomes Pereira (*1850) < Thereza Maria de Jesus (1887-1941) < Maria Ferreira de Rezende (1917-2008) < Benedita de Fátima Rezende (1943-2012) < Maria Amélia Teixeira de Araújo (*1967) < Daniel Alves Rezende (*1990).
[2] Estes irmãos foram os fundadores da sesmaria que originou a Fazenda Monjolinho em Uberlândia.
[3] O autor também é hexaneto (sexto neto) de Felisberto Alves Carrejo e sua esposa Luiza Maria de Jesus (Martins), perfazendo a seguinte linhagem sucessória: Felisberto Alves Carrejo (1795-1872) < Francisco Martins Carrejo (*1824) < Elias Rodrigues Martins (*1859) < Onofre Rodrigues de Rezende (1884-1966) < Joaquim Rodrigues de Rezende (1911-1976) < Benedita de Fátima Rezende (1943-2012) < Maria Amélia Teixeira de Araújo (*1967) <  Daniel Alves Rezende (*1990). E ainda hexaneto de Antônio Alves Carrejo e Maria Eufrazia de Jesus, que eram pais de Delfina Alves Rodrigues casada com seu primo primeiro, Francisco Martins Carrejo. Vê-se, portanto, que o autor descende dos mais antigos e tradicionais troncos familiares de Uberlândia, que são os Carrijo, os Rodrigues Rabello, os Pereira, os Rezende, os Paniago e os Ferreira da Fonseca. 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Em Anápolis, falece João Martins de Rezende



Faleceu no último dia 04, João Martins de Rezende (69), nascido em Anápolis – GO aos 10 de julho de 1945 foi o primeiro filho do casal Joaquim Rodrigues de Rezende e Maria Ferreira de Rezende a nascer naquela cidade, em vista de suas duas primeiras irmãs Valdete e Benedita terem nascido em Uberlândia. Foi batizado na Igreja Bom Jesus em Anápolis pelo então Cônego Pitaluga em 25 de dezembro de 1945, sendo seus padrinhos os tios Olímpio Rodrigues de Rezende e Ludovina Maria dos Santos.
Quando foi registrado além de receber o Rezende dos pais,  também recebeu o sobrenome Martins, que foi uma forma de seu pai, homenagear o seu avô e bisavô paterno, respectivamente Elias Rodrigues Martins e Francisco Martins Carrejo. Quanto a Missa de sétimo dia ocorreu no dia 10 no Santuário Santo Antônio também em Anápolis. Por fim, João será sempre lembrado por ser dono de um humor sem igual, sobretudo, na questão política.


Dai-lhe Senhor o eterno descanso, e que a Luz perpétua o ilumine. Descanse em paz. Amém!



Ascendência Paterna:

João Martins de Rezende (1945-2014)
Joaquim Rodrigues de Rezende (1911-1976)
Onofre Rodrigues de Rezende (1884-1966)
Elias Rodrigues Martins (1859-????)
Francisco Martins Carrejo
Felisberto Alves Carrejo (1795-1872)
José Alves Carrejo (1752-????)



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